Ruínas Romanas de Milreu

Sítio (9)
  • Tipo

    Villa

  • Distrito/Concelho/Freguesia

    Faro/Faro/Conceição e Estói

  • Período

    Romano, Medieval Islâmico, Medieval Cristão e Moderno

  • Descrição

    O sítio arqueológico de Milreu localiza-se num pequeno outeiro, na margem esquerda do rio seco, no sopé da serra de Monte Figo, perto da atual povoação de Estói, a cerca de 7 km da cidade de Faro. A implantação desta villa num território interior, na charneira entre a planície e a serra, rico em nascentes de água, permitiu o desenvolvimento da atividade agrícola, especialmente a produção de azeite e vinho. Este sítio foi identificado e extensamente escavado por Estácio da Veiga, a partir de 1877, que publicou uma planta geral muito detalhada da villa romana, na qual figuram estruturas e compartimentos que atualmente se encontram reenterrados. A partir da década de 70 do século XX, os trabalhos arqueológicos desenvolvidos no sítio arqueológico de Milreu inserem-se em projetos de investigação dinamizados pelo Instituto Arqueológico Alemão e pela construção do centro interpretativo. Os diversos trabalhos arqueológicos realizados permitiram identificar vestígios estruturais e artefactuais de uma imponente villa romana, com várias fases de construção e ocupação, cronologicamente balizadas entre o século I e o século VII d. C, bem como materiais integrados nos séculos VIII / inícios do século X. A área residencial (pars urbana) da villa de Milreu organiza-se em torno de um grande peristilum, com o pavimento revestido a mosaicos com motivos marinhos e geométricos, as paredes decoradas com pinturas, tanque central e jardim. No lado este desenvolvia-se a casa de habitação (atrium, diversos compartimentos privados e cozinha) e a oeste localizava-se o triclinium. As termas situavam-se a sudoeste, estando conservados vestígios de vários compartimentos, de um vestiário de dimensões significativas, pequena banheira de água fria, com paredes e degraus revestidos com mosaicos de temática marinha e restos dos sistemas de canalização. A Nordeste da área residencial identificam-se as estruturas funcionais da villa (pars rustica), nomeadamente os lagares para a produção de vinho e azeite, as áreas de armazenagem de produtos agrícolas (dolia) e os compartimentos destinados aos servos e escravos. Os vários projetos de construção que ocorrem na villa de Milreu entre os séculos II e IV d. C demonstram o crescimento económico e uma maior monumentalidade arquitetcónica e artística, evidenciando o elevado estatuto social dos seus proprietários. No século IV d. C. regista-se a construção, a Sul da villa, de um "edifício de culto" de planta quadrangular, prolongada para sul em abside, com cerca de 10 m de altura, elevado sobre um pódio e a área central rodeado por galeria de colunas. Este edifício apresentava imponente ornamentação, com um extenso painel de mosaico na parede do podium, repleto de motivos aquáticos, e o pavimento e as paredes revestidas de mármores policromos. Em termos arquitetónicos apresenta semelhanças com outros edifícios do Sul da Lusitânica, nomeadamente o da villa romana de São Cucufate. Inicialmente este edifício terá sido um templo associado ao culto de divindades aquáticas e posteriormente cristianizado, com a colocação no seu interior de um mausoléu e várias sepulturas e a construção de uma piscina baptismal. A villa romana de Milreu tem várias áreas sepulcrais que evidenciam as profundas transformações religiosas e rituais vividas na Antiguidade Tardia. Nas imediações do "edifício de culto" identificou-se um conjunto de inscrições funerárias em árabe, que se referem a uma família, possivelmente autóctone. Estes elementos epigráficos, a par de um conjunto artefactual com características tardias parecem indicar que a área da villa de Milreu continuou ocupada entre o século VII e as primeiras décadas do século X. A sul do "edifício de culto", sobre as ruínas romanas, situa-se uma casa rural, de planta retangular com cunhais cilíndricos, enquadrada nos modelos arquitetónicos rurais fortificados de época moderna. (C.Costeira 17/5/2018)

  • Meio

    Terrestre

  • Acesso

    A 7 Km de Faro e a 500 metros da aldeia de Estói. Junto à estrada que segue para Olhão

  • Espólio

    Espólio das ocupações romanas: recipientes cerâmicos e materiais de construção muito diversificados. Artefactos metálicos e vidros. Esculturas em pedra: Busto de Agrippina minor (século I d. C.); busto de Adriano (século II d. C.) - Museu Arq. Inf. D. Henrique, Faro. Busto de Galieno (século III d. C) - Museu Regional de Lagos. Dois frag. de pernas de estátuas couraçadas; busto feminino acéfalo; cabeça de mulher; 2 frags. busto feminino; 2 frags. de bustos masculinos; grupo de Eros a montar golfinho; busto de Baco jovem; Lagobolon - Museu Nacional de Arqueologia (Gonçalves, 2007). Estatueta de Sileno - paradeiro desconhecido (Gonçalves, 2007). Materiais islâmicos: fragmentos de recipientes cerâmicos, inscrições árabes em fragmento de coluna.

  • Depositários

    Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique e Museu Nacional de Arqueologia

  • Classificação

    Em Vias de Classificação (Homologado como MN - Monumento Nacional)

  • Conservação

    Bom

  • Processos

    S - 00009 e 99/1(192)

Bibliografia (24)

A arquitectura e os mosaicos do "edifício de culto" ou "aula" da villa romana de Milreu. Revista de História da Arte (2008)
A villa romana de Milreu. (Era) Arqueologia (2000)
Acerca da villa romana de Milreu/Estói. Continuidade da ocupação na epoca árabe. Arqueologia Medieval (1994)
As Transformações no Fim do Mundo Rural Romano no Sudoeste Peninsular: evidências e problemas arqueológicos (sécs. V-VII). Anales de Arqueología Cordobesa (2009)
As necrópoles romanas do Algarve - acerca dos espaços da morte no extremo Sul da Lusitânia (2014)
Catálogo das Inscrições Paleocristãs do Território Português (2006)
Do cloisonné ao liriforme. Diacronias de um adorno de vestuário na Alta Idade Média. Arqueologia da transição: entre o mundo romano e a Idade Média (2017)
Escultura romana em Portugal: uma arte do quotidiano (2007)
Faro romana: Ossonoba e Milreu. Monumentos - Revista Semestral de edifícios e monumentos (2006)
Intervenção de conservação em quatro pavimentos de mosaico na villa romana de Milreu. (Era) Arqueologia (2000)
L'épiscopat de Lusitanie pendant l'Antiquité tardive (IIIe - VIIe siècles) (2002)
La pars urbana tardorromana de la villa de Milreu (Estói, Portugal): nuevos descubrimientos y antiguos documentos. Las villae tardorromanas en el Occidente del imperio: arquitectura y función. IV Coloquio Internacional de Arqueología en Gijon (2008)
La producción de aceite y vino en la villa romana de Milreu (Estói): el éxito del modelo de catoniano en la Lusitania. De vino et oleo Hispaniae. AnMurcia (2012)
Las termas y balnea romanos de Lusitania (2004)
Milreu, Estói (Faro). Villa romana e santuário. Noventa Séculos entre a Serra e o Mar (1997)
Milreu. Ruínas. Roteiros da Arqueologia Portuguesa (2002)
Milreu. The Princeton Encyclopedia of Classical Sites (1976)
Motivos Aquáticos em Mosaicos Antigos de Portugal: Decorativismo e Simbolismo. Revista de História de Arte: O Mosaico na Antiguidade Tardia (2008)
Nuevos ejemplos de la romanización del paisaje de la posterior Luistania. Los paisajes rurales de la romanización - arquitectura y explotación del territorio : contribuciones presentadas en la reunión científica celebrada en el Museo Arqueológico Provincial de Badajoz, 27 y 28 de octubre de 2008 (2010)
O Peristilo da Villa Romana de Milreu: Novas Interpretações. Promontoria (2006)
Os mosaicos do "santuário" de Milreu, Estói (Algarve), no contexto de uma nova interpretação. O Arqueólogo Português (2005)
Sítios arqueológicos visitáveis em Portugal. Al-madan (2001)
Termas romanas no Gharb al-Ândalus. As inscrições árabes de Milreu (Estói). Arqueologia Medieval (1997)
Uma nova interpretação da área 21, a partir da planta elaborada por Sebastião Philippes Martins Estácio da Veiga, sobre a villa romana de Milreu (Estói, Algarve) - notícia preliminar. O Arqueólogo Português (2001)

Fotografias (22)

Localização