Boca do Rio

Sítio (272)
  • Tipo

    Villa

  • Distrito/Concelho/Freguesia

    Faro/Vila do Bispo/Budens

  • Período

    Romano

  • Descrição

    O sítio arqueológico da Boca do Rio corresponde a uma villa romana, localizada sobre a falésia da praia da Boca do Rio, nos limites orientais do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a sudeste da povoação de Budens. Este local de implantação, propício à exploração de recursos marítimos, condiciona a preservação dos vestígios arqueológicos devido à erosão costeira. As estruturas arqueológicas visíveis correspondem a compartimentos pertencentes a um espaço residencial (pars urbana), voltado para o mar, com pavimentos revestidos a mosaicos com decorações geométricas e paredes com estuques pintados, uma área termal com pequenas piscinas com degraus forrados a mosaicos e uma área de serviço doméstico (com lareira e contentores de alimentos - ânforas e dolia no seu local original). Nas traseiras, sob as dunas identificou-se uma oficina de produção de preparados de peixe, constituída por um conjunto significativo de cetárias (tanques) com diversas fases de construção e utilização. Na vertente oeste da villa, a cerca de 380 m, foi identificada uma sepultura romana que pode corresponder a uma área de necrópole. Nas proximidades da residência poderia existir um cais associado ao escoamento marítimo dos preparados de peixe produzidos nestas oficinas (eventualmente associado ao achado subaquático de uma ânfora). Os materiais arqueológicos identificados, nomeadamente recipientes de armazenamento (dolium e ânforas) e as cerâmicas finas (terra sigillata africana e cerâmica estampada cinzenta gaulesa tardia), bem como a sequência construtiva das estruturas domésticas e industriais permitem enquadrar a ocupação desta villa entre os finais do século I d. C e as primeiras décadas do século V d. C, sendo a sua fase de maior crescimento em torno do século III d. C. A implantação e as características arquitetónicas desta villa enquadram-se no modelo clássico da "villa marítima", com afinidades com os sítios da Abicada (CNS 72), Praia da Luz (CNS 4499), ou Quinta do Marim 3 (CNS 583). Este sítio arqueológico é conhecido desde o século XVIII, uma vez que os seus vestígios foram desvendados pelo tsunami decorrente do Terramoto de 1755. No final do século XIX (1878), J. Estácio da Veiga realiza trabalhos de escavação e elabora uma planta geral do sítio. Em 1894, A. Santos Rocha realiza trabalhos no local e identifica a área de necrópole. Na década de 30 do século XX, José Formosinho também realiza campanhas de escavação no local, recolhendo vários conjuntos de materiais, que armazena no Museu de Lagos. Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos a partir dos anos 80 do século XX inserem-se num contexto de salvaguarda para proteger o sítio dos efeitos da erosão costeira e recolher o máximo de informação possível. (actualizado por C. Costeira, 13/08/2018).

  • Meio

    Misto

  • Acesso

    Estrada de terra batida. Situa-se na confluência da Ribeira de Budens e de Vale Barão e junto à costa.

  • Espólio

    Cerâmicas de armazenagem (dolia com vestígios de preparados de peixe no interior / ânforas, algumas para o transporte de azeite), cerâmicas finas (terra sigillata africana, cerâmica estampada cinzenta gaulesa tardia), lucernas, vidros, metais, materiais de construção, moedas isoladas e um tesouro com mais de mil numismas do Baixo Império.

  • Depositários

    Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique , Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz , Museu Municipal de Lagos - Dr. José Formosinho e Museu Nacional de Arqueologia

  • Classificação

    ZEP - Zona Especial de Protecção

  • Conservação

    -

  • Processos

    S - 00272 e 90/1(087)-A

Bibliografia (17)

A indústria romana de transformação e conserva de peixe, em Olisipo. Núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros (2001)
Antiguidades Monumentaes do Algarve. Vol. II (1887)
Antiguidades monumentais do Algarve. O Arqueólogo Português (1910)
As imitações de moedas de bronze do século IV d. C. na Península Ibérica: o caso do Ae2 Reparatio Reipub (2000)
Boca do Rio (Budens, Lagos). História e perspectivas de investigação de uma das mais emblemáticas estações arqueológicas romanas do Algarve. Hispânia Romana - Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (2008)
Boca do Rio (Budens, Vila do Bispo): novos dados de uma villa piscícola romana. Revista Portuguesa de Arqueologia (2016)
Boca do Rio, 130 anos depois. Actas do 4º Encontro de Arqueologia do Algarve - Percursos de Estácio da Veiga - (Silves, 24 e 25 de Novembro de 2005) (Xelb, 7) (2007)
Em torno dos projectos da zona arqueológica da Boca do Rio e do Océan. Encontro de Arqueologia da Costa Sudoeste (Homenagem a Georges Zbyszewski) (1997)
Escavação Arqueológica de Emergência no Sítio Romano da Boca do Rio (Budens - Vila do Bispo - Faro). Contributo Para o Entendimento da Organização do Espaço Num Sítio Produtor de Preparados de Peixe. XELB, 11 (2012)
Investigações geo-arqueológicas sobre a configuração do litoral algarvio durante o Holoceno. Revista Portuguesa de Arqueologia (2014)
Las termas y balnea romanos de Lusitania (2004)
Mosaicos da Boca do Rio y Abicada (Lusitania). Journal of Roman Archaeology, Suplemento 9 (1994)
Notícia de algumas estações romanas e árabes do Algarve. O Arqueólogo Português (1896)
O Dr. José Formosinho e a Arqueologia do Algarve. Noventa Séculos entre a Serra e o Mar (1997)
O Registo Geológico do Tsunami no Algarve. 1755. Terramoto no Algarve (2005)
O Sítio Romano da Boca do Rio: identificação e registo das estruturas arqueológicas visíveis à superfície. Actas do 7º Encontro de Arqueologia do Algarve (Silves - 22, 23 e 24 de Outubro 2009) (Xelb, 10) (2010)
Roman Portugal (1988)

Fotografias (0)

Localização