Trabalhos arqueológicos no Hotel Netto, Sintra

Projeto arqueológico
  • Designação

    Categoria C - ações preventivas

  • Ano do Início/Conclusão

    2005/

  • Estado

    Aprovado

  • Objetivos

    A intervenção arqueológica acima analisada teve por objectivo primordial a avaliação do impacte patrimonial que eventualmente virá a ser provocado pela implementação do projecto de remodelação dos imóveis do antigo Hotel Netto. Importava, dessa forma, averiguar quais as sensibilidades patrimoniais inerentes às construções preexistentes, concretamente o contraforte pétreo que se encontra implantado no patamar superior da propriedade, justaposto ao grande paredão que confina com as instalações do posto de Sintra da GNR. Por outro lado, importava investigar a eventual existência de uma zona de tapada, intra ou extramuros do Paço de Sintra, envolvendo a Norte o conjunto da construção áulica. A confirmação, ou não, deste pressuposto constituiu um dos objectivos da intervenção arqueológica em apreço, uma vez que importava verificar se existiam indícios de ocupações anteriores, concretamente medievais, no subsolo da propriedade do antigo Hotel Netto.

  • Resultados

    Os resultados obtidos vieram realçar sobremaneira a importância da propriedade do Hotel Netto no contexto do perímetro urbano da estrutura palatina da Vila de Sintra. A intervenção arqueológica agora analisada permitiu estabelecer dois campos de abordagem no que diz respeito aos vestígios identificados. Por um lado, temos o registo do quotidiano dos séculos XIX e XX, coevos com os edifícios oitocentistas eventualmente subjacentes ao conjunto de imóveis do Hotel Netto e, consequentemente, a ocupação da própria unidade hoteleira. A esta realidade encontra-se associado uma série de estruturas hidráulicas e pequenos compartimentos (de funcionalidade indeterminada), cuja utilização se revelou muito curta e cronologicamente muito rápida. Aliás, a grande complexidade das várias canalizações identificadas traduz, precisamente, a desactivação de umas estruturas em proveito de outras num curtíssimo espaço de tempo. Por outro lado, a aparente inexistência de estruturas soterradas pertencentes a uma época anterior ao século XIX, associada à identificação de contextos de deposição de entulhos, cujos materiais se encontram balizados entre os séculos XVI-XVIII, permite afirmar que esta área da Vila de Sintra permaneceria, eventualmente, como um espaço de tapada até pelo menos ao século XIX. Os estratos que conferiram materiais de Época Moderna correspondem, certamente, à acumulação de desperdícios resultantes das várias campanhas de obras do Paço de Sintra - destaque-se neste sentido os diversos elementos arquitectónicos e fragmentos de azulejos exumados - ou mesmo relacionados com o Terramoto de 1755, uma vez que não tivemos oportunidade de identificar (concretamente nas áreas da sondagem 3) quaisquer materiais arqueológicos que pudessem corresponder a fases posteriores ao cataclismo. Finalmente, os ténues vestígios materiais que apontam para ocupações anteriores à época medieval confirmam, apenas e uma vez mais, a presença de grupos humanos durante a Pré-história recente na área da Vila de Sintra, facto já conhecido desde a década de 80 do século XX. A especial relevância da intervenção efectuada na propriedade do Hotel Netto consistiu na caracterização do contraforte de pedra aparelhada, previamente identificado, como fazendo parte integrante das estruturas do perímetro urbano do Palácio de Sintra, tendo sido possível, inclusivamente, quer com o auxílio de fontes escritas, quer pelo tipo de aparelho pétreo, quer ainda pelas marcas de canteiro que exibe, aferir a época em que o mesmo terá sido edificado, ou seja em torno do século XVI. Atestada que ficou a pertença do contraforte às antigas construções do perímetro urbano do Palácio da Vila, torna-se imprescindível a sua preservação e recuperação, uma vez que esta estrutura se apresenta instável e a necessitar de uma intervenção célere de conservação e restauro. Por outro lado, defendemos a salutar adaptação do novo projecto arquitectónico à realidade em causa, de modo a garantir a sua expressividade e monumentalidade. Do ponto de vista estritamente arqueológico verificou-se não existirem condicionantes à execução do projecto de remodelação em apreço, destacando-se apenas que a demolição das paredes existentes no logradouro do hotel deverá ser devidamente acompanhada, pois ficou por demais atestada a inclusão de elementos arquitectónicos originários do Paço de Sintra como material de construção das mesmas.

  • Responsável

    Maria Catarina Maia de Loureiro Gomes Coelho

  • Co-Responsáveis

    Hélder Manuel Lemos Teixeira e Nuno Miguel Gonçalves Neto

  • Pessoas (relação)

    -

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