A Citânia de Briteiros é um povoado fortificado de grandes dimensões e monumentalidade, localizado no topo do monte de São Romão, numa zona sobranceira ao rio Ave, em Guimarães. A sua implantação geográfica, nas proximidades desta linha de água e numa área com amplo domínio visual, tornava possível não só o aproveitamento de recursos piscícolas, como o eventual controlo de rotas comerciais pelas populações que lá residiam.
As campanhas de trabalhos arqueológicos iniciadas por Francisco Martins Sarmento, em 1874, e continuadas por outros investigadores de forma descontínua até aos dias de hoje, permitiram caracterizar este icónico povoado proto-urbano, que se dispersava por uma área total de 24 hectares, sendo composto por um sistema defensivo, zonas residenciais e espaços públicos tais como a "Casa do Conselho" ou os balneários. O sistema defensivo era constituído por quatro linhas de muralhas, sendo que três convergiam para norte, e outra, considerada suplementar, situar-se-ia a nordeste. A existência de dois fossos escavados na rocha, localizados nas zonas mais vulneráveis (um situado no vale e outro sobranceiro ao rio Ave), vinha complementar este dispositivo, contribuindo para proteger o território e os seus habitantes. O interior da citânia encontrava-se organizado através de uma malha de arruamentos, tendencialmente ortogonal e marcada por dois eixos principais, onde é clara uma separação entre o espaço privado e o espaço público. No espaço privado achavam-se as zonas residenciais, com unidades familiares e núcleos habitados por famílias extensas, destacando-se a "Casa da Espiral" - um complexo habitacional familiar onde foram individualizadas três casas circulares em torno de um páteo central - e a "Casa de Auscus" - um conjunto do tipo "domus", composto por estruturas retangulares em torno de um átrio central retangular e lajeado. Associado a esta habitação foi registado um elemento arquitetónico onde constava a palavra "Auscus" (nome do proprietário? Nome da família?).
A presença de elementos decorativos nestes espaços, como lintéis ornamentados, parece remeter para a existência de proprietários mais ricos e com maior distinção social. Para além das habitações, foram também identificadas estruturas que poderão ter funcionado como armazéns, estábulos ou oficinas.No centro do povoado encontrava-se uma casa circular de grande dimensão (aproximadamente 11 m de diâmetro), que no seu interior dispunha de um banco corrido em pedra. Esta foi interpretada como "Casa do Conselho", um local onde os anciãos se reuniriam.
A Citânia de Briteiros dispunha ainda de dois balneários públicos, sendo possível observar, no exemplar melhor preservado, situado no sopé da encosta, a Sudoeste, as várias divisões existentes, como o átrio, que alojava os tanques, a antecâmara e a câmara, bem como um forno. No século XVIII foi recolhido uma laje amplamente decorada - a "pedra formosa"- que terá pertencido ao restante balneário. A localização destes balneários, fora das áreas residenciais, leva a crer que estariam abertos ao público, ainda que possam ter existido restrições à sua utilização. Está também por clarificar se estes equipamentos estariam associados a atividades rituais ou se serviriam para a manutenção da higiene. Entre as atividades desenvolvidas neste povoado, é de destacar a metalurgia, testemunhada pela presença objetos como fíbulas, alfinetes e objetos de adorno. A informação providenciada pelos trabalhos arqueológicos não permite ainda definir com maior exatidão as fases de ocupação deste espaço ou qual terá sido o momento de fundação do povoado fortificado. Os dados existentes revelam que terá havido presença humana durante o Neolítico/Calcolítico (ex: gravuras rupestres) e que o grande desenvolvimento da citânia terá ocorrido durante os séculos II e I a.C. A este período seguiu-se uma gradual perda de funções com o consolidar da presença romana no noroeste peninsular. No século X foi construída uma pequena ermida.
Overview
The ruins, managed by the Sociedade Martins Sarmento, are open to the public. The archaeological materials uncovered during the excavations on the site are exhibited in the Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento.